terça-feira, 15 de julho de 2008

O Vinho e o Bombarral


A vinha provavelmente foi introduzida na Ibéria, pelos Fenícios, que detinham rotas de navegação comercial ao longo do Mediterrâneo, estabeleceram uma colónia no território da actual cidade espanhola de Cádis, em Espanha, ladearam a costa do Algarve e daí chegaram até ao Tejo.
Trouxeram vides do Médio Oriente, fazendo expandir a cultura da vinha, no território português de Sul para Norte, até ao estuário do Sado.
Mais tarde os Celtas vindos do Norte da Europa, introduziram a arte da tanoaria já existente na Gália.
Mas foi após a conquista da Península Ibérica pelos Romanos, no (sec. I a C.) que acultura da vinha progrediu até ao Rio Mondego. Com os Romanos vieram as ânforas, usadas na fermentação e transporte, as talhas, assim como as prensas de fuso.
A produção voltou a aumentar com a chegada á Península Ibérica, de Suevos e Visigodos, oriundos do Norte da Europa, e pelo gosto por um produto alcoólico de excelente qualidade e novo, as vinhas chegaram ao Dão.
Todavia, com a chegada dos Árabes no sec. VIII, á Península Ibérica, a cultura da vinha sofreu algum retrocesso, devido á interdição do consumo alcoólico por parte do Alcorão, em particular devido á interpretação radical por parte dos Almorávidas e dos Almóadas.
Segui – se a reconquista Cristã ate ao sec. XIII e a cultura da vinha teve novamente um grande incremento. A cultura da vinha e os impostos que incidiam sobre a circulação e consumo do vinho eram muito importantes para a instituição dos concelhos, doações á igreja e consumo nos actos religiosos, segundo descrevem as cartas de foral da época.
Na época, aos anos de sobreprodução sucediam – se anos de fracas produções. Mas em épocas de abundância, os produtores só eram autorizados a vender o seu vinho, depois do o rei ter vendido toda a sua colheita.
O vinho fez parte da dieta medieval, ao lado dos cereais consumidos sob a forma de pão, do peixe e da carne.
Nas mesas mais pobres, comia – se a Sardinha, a partir do sec.XVIII, algum Bacalhau, nas mesas mais ricas Peixotas, Congros, Linguados, Sáveis, Salmonetes, Azevias, Ruivos, Pargos, Solhas, Pargos, Besugos, Gorazes, Trutas, Lampreias. Quanto á carne os pobres comiam ás vezes, Galinha ou Pato, os mais abastados, Galo, Pato, Gansos, Pombos, Faisões, Pavões, Rolas, Coelhos…
No inicio do sec. XIX dois terços de Portugal estavam incultos. A vinha foi uma cultura que se adaptou facilmente ao clima do território português, espalhou - se de Sul a Norte do País.
Instalou - se junto dos maiores centros urbanos, dos mosteiros ou perto das zonas costeiras, cujos portos se procedia ao transporte dos vinhos.
O vinho foi usado como moeda de troca nas transacções comerciais entre Portugal e as outras Nações, faltava o azeite e o sal, mas o vinho manteve bom nível de produção e de exportações.
Entretanto no sec. XIX, surgiram os vinhos de mesa. O Estuário do Tejo, as Linhas de Caminho de Ferro do Carregado, mais tarde do Oeste, contribuíram decisivamente para o desenvolvimento do comércio do vinho, muitas empresas aproveitaram as novas facilidades de transporte, embarque e exportação, montando armazéns, junto ás linhas férreas ou beira rio.
À beira rio, Lisboa, criaram – se grandes empresas, J. Serra, José Maria da Fonseca, Carvalho Ribeiro e Ferreira e a Abel Pereira da Fonseca.
Entre estas empresas salienta – se a Abel Pereira da Fonseca, cujo fundador com o mesmo nome, oriundo do distrito da Guarda, muito jovem veio para Lisboa, e depois de ter trabalhado vários anos em empresas de distribuição de vinho, em 1906, fundou uma grande empresa de distribuição de vinhos, na cidade que muito bem conhecia.
Abel Pereira da Fonseca fundou no Poço de Bispo, em Lisboa, a Vale do Rio, que era constituída por uma rede de 100 lojas, onde se vendia vinho, que lhe concedeu um titulo de consideração popular de “ Rei das Tabernas de Lisboa” e azeite de excelente qualidade.
Em 1911, Abel Pereira da Fonseca, demonstrando a sua grande capacidade de empreendorismo e visão comercial aproveitou a oportunidade que o Caminho de Ferro do Oeste, oferecia em relação aos transportes e á proximidade de Lisboa, e comprou a “Quinta das Cerejeiras”, no Bombarral, fundando a “Companhia Agricola do Sanguinhal”, igualmente no Bombarral, agregando a “Quinta de S, Francisco”, situada no Outeiro da Cabeça.
Esta ligação de Abel Pereira da Fonseca, ao Bombarral, continua na actualidade com a manutenção das quintas acima focadas, e da prestigiada “Companhia Agricola do Sanguinhal”, com vinhos de excelência, qualidade premiada em certames nacionais e internacionais, ocupando lugar cativo em restaurantes e garrafeiras espalhadas por esse mundo fora.
O Bombarral está ligado á história do vinho. Também é bom lembrar algumas empresas que levaram o nome do Bombarril, hoje marca líder em Moçambique, aos quatro cantos do mundo, a Pereira Bernardinos, a José Barardo, a Patuleias e Patuleias, a Sá dias e Filho….e a almofada dos produtores de vinho da região do concelho do Bombarral , a Adega Cooperativa do Bombarral, que alimentou anos a fio os circuitos de produção do Vinho Verde Comercial e da aguardente para o Vinho do Porto.
Também convém recordar que no Bombarral, existe uma das maiores estruturas Nacionais da antiga Junta Nacional do Vinho, actualmente IVV.
Como homenagem a todos aqueles que labutaram dias e alguns pedaços de noite, no cultivo das videiras que produziram o vinho, que foi a base de tudo atrás focado, era importante para o Bombarral, criar nas abandonadas instalações do IVV, no Cintrão, o “Museu Etnográfico e Agricola do Oeste” onde o vinho faça história.